domingo, 1 de fevereiro de 2009

Sondando a consciência do jeito que ela é

Passeando com meu cachorro no Morro do Cascalho (periferia da cidade), como esporadicamente o faço, desta feita eu buscava um momento mais compenetrado para as minhas reflexões e orações. Enquanto subia devagar, pensando na vida e seus mistérios, sobre os acertos e os desacertos que a gente comete ao longo desta existência resolvi refletir um pouco sobre “como anda a minha consciência”. Distraído em meus pensamentos, de repente, pareceu-me que alguém falou comigo. Seria o meu cachorro?
— O quê?
Perguntei espantado.
— É isso mesmo!, — insistiu a fala: “Não vê que você tem que conversar mais com teus filhos e até com a tua mulher? Eles já estão querendo fazer pouco caso de ti e isso é inadmissível. Mas a culpa é tua também”.
— Como assim? Perguntei assustado.
— Teu filho mais novo parou os estudos, faz o que bem entende, esbanja o que não tem, tu sabes disto, mas finge que não sabe e nem se presta para dar-lhe bons conselhos a não ser para chamar-lhe a atenção bruscamente nas horas inconvenientes, causando-lhe constrangimento.
— E daí?
— Daí que, por falta de diálogo, tuas duas filhas mais velhas passaram a te desacreditar desde que tu deixaste transparecer-lhes que tem o grave defeito de julgar o próximo. A mais nova das duas, então, ficou chocada com uma conversa tua, numa hora de ímpeto nervoso, que você só “desfalou” para si mesmo e até pediu perdão, mas para ela, continua aquela imagem negativa e traumática.
— Puxa vida! é verdade. Como eu ainda não havia me atinado para isso! A hora que eu descer este morro, vou direto conversar com elas e apagar toda imagem ruim que lhes causei a meu respeito.
— Pois é — continuou a fala: “E não é só isso: teu outro filho, aquele de quem ainda não falamos, às vezes se sente injustiçado, pois tu quer ser ‘tão bonzinho’ e ele tem a natureza calada, às vezes fica esquecido enquanto outros conseguem mais se beneficiar usando o teu ponto fraco. Além disto, você nem se esforçou para ele ter uma profissão mais garantida e nem insistiu para que ele seguisse os caminhos que você acha correto. Não percebe que pecas por omissão?”.
— É verdade! Quando fizer minhas orações e descer deste morro, vou direto falar com ele e procurar ser-lhe mais justo. Mas... continue. Você sabe mais a meu respeito do que eu próprio. Continue...!
— Então quer saber mais? A mais nova das tuas filhas ainda não sabe que você é um esbanjador de dinheiro, ganha o suficiente e gasta tudo em coisas supérfluas. Esqueceste que quem vive estudando fora de casa passa por momentos estressantes, como é o caso dela que acha que tu te aborreces com as despesas. Por isso ela se cala diante das necessidades. Em parte ela tem certa razão, pois tu pareces um tanto desorganizado financeiramente e até profissionalmente.
— Então o que devo fazer?
— Mude de vida, organize-se e depois lhe passe toda a confiança e o recurso que ela necessita para seguir em frente nos seus ideais.
— Puxa! Você sabe mesmo das coisas. Continue...
— A tua mulher adquiriu a mania de querer ficar “entocada” dentro de casa e tu não gostas disto, mas nem mesmo desconfiastes que isto é sintoma de estresse. Já paraste para pensar que quem contribuiu para que ela seja assim foste tu mesmo?.
— Êpa! Espera aí, cara! Desde que casamos há mais de 30 anos, os seus pequenos defeitos vêm se multiplicando cada vez mais até que tenho pensado que ela não vai mais com a minha cara e você acha que a culpa é minha?
— Deixe de ser arrogante e hipócrita ao mesmo tempo! Tu cometeste erros graves permitindo-lhe viver uma vida desmotivada, ficando em casa cuidando dos filhos enquanto tu saia por aí nas horas vagas, com amigos, principalmente aqueles ligados ao PX, lembra do auge da implantação do rádio amador, e do “caça-raposa”, teu esporte predileto? Ela, sozinha em casa com as crianças, foi se afastando da sociedade até se acostumar com esta vida estressante e quase que desiludida que ainda leva. Agora quer ouvir o pior de tudo?.
— Não, por favor! Pare por ai. Já sei o que fiz de pior. Pode parar!
— Só estes exemplos já bastam para você avaliar que tem muitos defeitos, que dirá lá fora do ambiente familiar onde a tua omissão é bem maior! Desenterre o teu talento enquanto é tempo. Procure melhorar, pois aqueles que subiam o morro chamado Monte Sagrado no intuito de se aproximar de Deus em suas orações, chegavam a comer gafanhotos em suas peregrinações pelo deserto e possuíam muito mais méritos do que tu.
— Espere aí mais uma vez: você é uma criatura sábia e podia me alertar sobre tanta coisa a fim de que um dia eu venha a ter algum mérito diante de Deus. Mas que coisa mais estranha: cachorro não conhece estas coisas e nem mesmo fala... Com quem então estou falando?
Foi aí que me pareceu ter libertado de um transe e voltado ao normal... É verdade. O cachorro não falou nada. É que na minha concentração acionei a Consciência que está em mim e a examinei a fundo naquela hora. Ela se manifestou como que uma personalidade distinta, querendo se libertar de tantas culpas e defeitos. Por isso travamos este diálogo imaginário.
Refleti demoradamente sobre cada item da acusação que a minha Consciência me fez. Depois disto aprendi a me comunicar sempre com este meu lado misterioso. Aprendi a respeitar e a dialogar com a minha Consciência que continua me mostrando o quanto eu poderia ter sido melhor nesta vida e como melhorar daqui para frente. Ainda bem que, depois destes diálogos, tenho conseguido remediar algumas falhas do passado e agir com mais prudência a partir de agora.
Todas às vezes que vou confessar os meus pecados para Deus, lá vem de novo a Consciência que me acusa, me humilha, me tortura e mostra que não sou nada nesta vida. Mas a Sabedoria que a acompanha coloca-me de pé novamente, me faz levantar a cabeça e seguir em frente com o propósito de melhorar sempre.
Tente você também falar com a sua Consciência. Procure fazer isso sozinho, em lugar que ninguém te interrompa. Com certeza encontrará esta espécie de “entidade divina” pronta para mostrar os teus defeitos de modo que você possa superar problemas do presente e ser, dali para frente, uma pessoa mais justa.
A Consciência anda junto com a Sabedoria: só são encontradas por aqueles que as procuram. E “quem procura acha”! Vale a pena procurar até encontrá-las a todo custo.

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